"Os camponeses do Ariane, que tinham uma granja para os lados de Montereau e conheciam bem a região, falavam de um domingo em que o trânsito havia parado durante cinco horas, mas esse tempo começava a parecer quase insignificante agora que o sol, pondo-se à esquerda do caminho, derramava em cada automóvel uma última avalanche de geleia laranja que fazia ferver os metais e ofuscava a vista, sem que jamais uma copa de árvore desaparecesse de todo para trás, sem que outra sombra apenas entrevista a distância se aproximasse como para poder sentir verdadeiramente que o cortejo se mexia ainda que muito pouco, embora fosse preciso parar e arrancar, e bruscamente travar sem nunca sair da primeira, da ultrajante desilusão de passar mais uma vez da primeira ao ponto morto, travão de pé, travão de mão, parar, e assim de novo, mais uma vez e mais outra."
Júlio Cortazar in A auto-estrada do Sul
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