De vez em quando a angústia volta, e o alarme, e um pavor todavia calmo e obscuro. E aí, um prazer amargo e uma grande plenitude enche-me a alma. Não me agito por dentro quando esse alarme me visita, não me suspendo em intensa expectativa. Mas também não me sinto alegre. A alegria imediata, a que estala em riso como sua festa, é a que tem que ver com essa coisa um pouco idiota de se ser "feliz". A alegria profunda não ri e conhece apenas, se conhece, a profunda pacificação. Como no termo de uma viagem. Como no termo de um dia na infância, estoirados de cansaço, a verdade absoluta da vida e do universo é apenas a do adormecer.
Vergílio Ferreira, "Pensar", Bertrand Editora, 1992
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