E então? O homem é o animal que pergunta. No dia em que soubermos verdadeiramente perguntar, haverá diálogo. Por enquanto as perguntas afastam-nos vertiginosamente das respostas. Que epifania poderemos esperar se nos estamos a afogar na mais falsa das liberdades, a dialética judaico-cristã? Faz-nos falta um Novum Organum de verdade, é preciso abrir de par em par as janelas e lançar tudo para a rua, mas sobretudo também é preciso lançar a janela e nós com ela. É a morte, ou sair a voar. É preciso fazê-lo; é preciso fazê-lo de qualquer modo. É preciso ter coragem para entrar no meio das festas e colocar sobre a cabeça da esfuziante dona da casa um belo sapo verde, presente da noite, e assistir sem horror à vingança dos laicos.
Julio Cortazar in Rayuela (1963)
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