sinto o tempo devorá-los impiedosamente
já não somos marinheiros nem pastores
nem ferradores nem vendedores de animais
perdemos a sabedoria dos remotos ofícios
ignoramos o ardor dos corpos estendidos no orvalho
a beleza da noite desprendendo fogos
o aroma espesso dos frutos... a fecunda alegria
arrasto comigo o cheiro amargo da memória
mascaro os dias com palavras cujo significado perdi
mas nenhuma felicidade vem alojar-se no coração
o mundo que te rodeou continua inaudível e perdido
apodrece nas fotografias arrumadas dentro da gaveta
debaixo da roupa engomada
o aparo da caneta imobiliza por trás de cada palavra
o som dos poucos objectos com que partilhámos a vida
fica com as máscaras de tinta a morderem-te a noite
eu parto para qualquer país onde não exista
Al Berto
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