segunda-feira, 18 de junho de 2012

Embalo Provisório

Temos pressa da ternura
que pensamos surgir numa das ondas que nos embala
durante o caminho.

Temos inquietação
pela ânsia de dar.

Guardamos as imagens mudas do que já passou
e o silêncio do que ainda bate dentro de nós.

Restamos nós.
Só nós.
Sós.
Sós de nós.

Embalam-nos as ondas que nascem e logo morrem
até chegarmos ao mar calmo.

Nós. Bichos teimosos, perdidos, às voltas, olhando a neblina que nos cega da razão.
E então.

Criamos imaginação.

Os motores são desligados.
Chegamos porque sim.
Porque nos deixamos ir.
Sós.
Nós.

Num embalo provisório sem fim.













Picture: Aurora, F. W. Murnau (1927)

domingo, 17 de junho de 2012

Dos parênteses da vida.

Dos parênteses da vida.

Das felicidades editadas entre semi círculos fechados.
Da curta crença em viver e da sua duração.
Do respirar e ser respirado.
Das novas experiências que se abrem no branco e se fecham na cor que lhe demos.
Da vontade destes parêntesis ficarem abertos por muito tempo.

Neste, eu ainda tenho cores a dar.

Primeiro dia de filmagens de "A Cidade onde envelheço"

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo.



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada
Supor o que dirá 
Tua boca velada 
É ouvir-te já. 

É ouvir-te melhor 
Do que o dirias. 
O que és não vem à flor 
Das caras e dos dias. 

Tu és melhor - muito melhor! 
Do que tu. Não digas nada. Sê 
Alma do corpo nu 
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny