quarta-feira, 27 de março de 2013

Não há ordem na natureza

No entanto, por vezes as peças do museu mostravam, afinal, que eram peças de uma artilharia secreta e que apenas haviam aguardado o momento propício para se reorganizarem com outros objectivos. E assim, de repente, aquilo que parecia ter sido feito para um fim: a contemplação - os homens precisavam de cinema e a natureza parecia ser o filme que Deus escolhera para passar ininterruptamente em frente dos seus olhos -, aquilo que parecia poder ser enfrentado com uma atitude relaxada, ao ponto de se colocarem cadeiras para contemplar o nascer, o pôr do Sol e a neve, aquilo enfim que parecia apenas um aliado mais fraco, transformava-se, em breves instantes no mais forte dos inimigos.

Gonçalo M. Tavares in Aprender a Rezar na Era da Técnica

terça-feira, 26 de março de 2013

o tronco

O que chamo de tronco é todo o corpo, compreendendo os braços e as pernas (...) contando que esses braços e pernas se movam somente ao chamado do tronco e prolongando a sua linha de força (...). Se tem emoção, o movimento parte do tronco e ecoa mais ou menos nos braços. Se só tem explicação da inteligência pura, desprovida de afetividade, o movimento pode partir dos braços para transportar somente os braços ou levar o tronco.

























(Decroux,1963, pp. 60-61).

terça-feira, 19 de março de 2013

não poderemos voltar a casa, outra vez...

Fez um ano, no passado dia 10 de Março, que comecei este blog.
Um blog que se propõe sempre inacabado assim como o filme de nome homónimo. 


Estava em Berlim. Iniciava-se aí um novo período da minha vida e eu nem me apercebia.

A estadia naquela cidade marcou-me e mudou-me mais do que alguma vez poderia imaginar. E só agora sei disso.



Foi a partir daí, que começou um dos anos mais bonitos e importantes que vivi. 
Senti que este blog me acompanhou sempre, mesmo sem posts diários.
E que se manteve vivo pela riqueza e vontade dos dias que passei...

Agora recomeça mais um ano de partilha.
Mais um ano em que não poderemos voltar a casa, outra vez...

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Belo Horizonte

Um dia vou aprender a partir
vou partir 
como quem fica


Um dia vou aprender a ficar
vou ficar
como quem parte

AMM

história humana

Ao que imagino - disse D. Quixote não há história humana no mundo que não tenha os seus altos e baixos, especialmente as que tratam de cavalarias, as quais nunca podem estar  cheias de prósperos sucessos.























Miguel de Cervantes y Saavedra - Dom Quixote de La Mancha
Desenho - Júlio Pomar

quinta-feira, 14 de março de 2013

Desassossego

Agi sempre para dentro... Nunca toquei na vida... Sempre que esboçava um gesto, acabava-o em sonho, heroicamente... Uma espada pesa mais que a ideia de uma espada... Comandei grandes exércitos — venci grandes batalhas, gozei grandes derrotas — tudo dentro de mim... Gostava de passear sozinho pelas alamedas e pelos grandes corredores e de comandar as árvores e desafiar os retratos das paredes... No grande corredor sombrio que há ao fundo do palácio passeei com a minha noiva muitas vezes... Eu nunca tive noiva real... Nunca soube como se amava... Apenas soube como se sonhava amar... Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos é que às vezes queria julgar que as minhas mãos eram de princesa e que eu era, pelo menos no gesto das minhas mãos, aquela que eu amava... Um dia foram-me encontrar vestido de rainha... Eu estava sonhando que eu era a minha esposa régia... Gostava de ver a minha face reflectida porque podia sonhar que era a face de outra criatura — porque era de formas femininas, que era de minha amada que era a minha face reflectida... Quantas vezes a minha boca, tocou na minha boca nesse espelho!... Quantas vezes apertei uma das mãos com a outra, quantas adorei meus cabelos com a minha mão alheada para que parecesse dela ao tocar-me. Não sou eu que te estou dizendo isto... É o resto de mim que está falando.

Livro do Desassossego. Fernando Pessoa

quarta-feira, 13 de março de 2013

os mails que se recebe...

"Peço desculpa mas usei o teu sabonete do leite de burra, depois compro-te outro ... é excelente!

mãe"


quinta-feira, 7 de março de 2013

num ímpeto de partilha 
um pouco além do previsto 
esticando as distâncias 
até que o encontro aconteça


Júlia Panadés

domingo, 3 de março de 2013

Para ouvir baixinho...

Everytime we say goodbye, I die a little,
Everytime we say goodbye, I wonder why a little.