sábado, 29 de dezembro de 2012

sábado, 22 de dezembro de 2012

Não posso adiar o amor


Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


António Ramos Rosa

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

da matéria

O que havia percebido da matéria, até agora, era isto - ela só tinha dezoito anos, chamavam-lhe louca - tinha a certeza de não ser capaz de grandes descobertas, mas sabia isto: cada matéria tem uma velocidade de mudança própria, rapidíssima ou lenta, e é esse índice de velocidade de mudança que diferencia os vários materiais. O ovo, qualquer ovo, era para Mylia um material perturbante. O que mais rapidamente muda, o que é composto de maior desassossego, o que existe já para ser outra coisa. Havia em qualquer ovo uma espécie de altruísmo material, concreto, que ela não via em mais nenhuma coisa do mundo. Aparecer porque se quer desaparecer. Aparecer porque se quer fazer aparecer outra coisa. O altruísmo material era o altruísmo moral e não havia outro. O espírito não é generoso, o imaterial não é generoso: que pode perder o que não existe?

Gonçalo M. Tavares - Jerusalém (2004)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Existe um sopro antes das sílabas,
um movimento dentro das palavras. um cheiro de asas
dentro desse sopro. um compasso de ternura
na voz dos teus olhos...
e sou, ele e eu, um... Ele é, precisamente,
não ser ele, mas sim, ser a coisa que eu sinto...


O amor cria o espaço que se lhe segue



Quero ainda florir na tua árvore absoluta...
no grande e verde violoncelo, de onde
emanam os pássaros..

Dele (2012)

domingo, 2 de dezembro de 2012

the angel of history

This is how one pictures the angel of history. His face is turned toward the past. Where we perceive a chain of events, he sees one single catastrophe that keeps piling ruin upon ruin and hurls it in front of his feet. The angel would like to stay, awaken the dead, and make whole what has been smashed. But a storm is blowing from Paradise; it has got caught in his wings with such violence that the angel can no longer close them. The storm irresistibly propels him into the future to which his back is turned, while the pile of debris before him grows skyward. This storm is what we call progress.

Walter Benjamin - Theses on the Philosofy of History
Pic. Albrecht Dürer - The Four Horsemen Apocalypse (1497-98)