segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Viagem ao Fim da Noite

Perdemos a maior parte da nossa mocidade em actos desastrados. Era evidente que a minha amada viria a abandonar-me por completo e em breve. E eu não tinha ainda aprendido que existem duas humanidades muito diferentes, a dos ricos e a dos pobres. Foram-me precisos como a tantos outros os meus vinte anos e ainda a guerra, para aprender a manter-me de acordo com a minha categoria, a perguntar o preço das coisas e dos seres antes de lhes tocar, e sobretudo antes de me prender a eles.

Céline, "Viagem ao Fim da Noite", Círculo de Leitores, 1989

Out takes From the Life of a Happy Man

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

com todo o amor, trouble every day.



Look into my eyes
You see trouble every day
It’s on the inside of me
So don’t try to understand
I get on the inside fo you
You can blow all away

Such a slightest breath
And I know who I am

Look into my eyes
Hear the words I can’t say
Words that defy
And they scream it out loud

I get on the inside of you
You can wave it all away
Such a slightest thing
It’s just the rise of your hand

(...)

domingo, 20 de outubro de 2013

De hoje

De vez em quando a angústia volta, e o alarme, e um pavor todavia calmo e obscuro. E aí, um prazer amargo e uma grande plenitude enche-me a alma. Não me agito por dentro quando esse alarme me visita, não me suspendo em intensa expectativa. Mas também não me sinto alegre. A alegria imediata, a que estala em riso como sua festa, é a que tem que ver com essa coisa um pouco idiota de se ser "feliz". A alegria profunda não ri e conhece apenas, se conhece, a profunda pacificação. Como no termo de uma viagem. Como no termo de um dia na infância, estoirados de cansaço, a verdade absoluta da vida e do universo é apenas a do adormecer.


Vergílio Ferreira, "Pensar", Bertrand Editora, 1992
Jonas Mekas





















sábado, 19 de outubro de 2013

A falta de Manuel A. Pina

Aos Filhos

Já nada nos pertence,
nem a nossa miséria.
O que vos deixaremos
a vós o roubaremos.

Toda a vida estivemos
sentados sobre a morte,
sobre a nossa própria morte!
Agora como morreremos?

Estes são tempos de
que não ficará memória,
alguma glória teríamos
fôssemos ao menos infames.

Comprámos e não pagámos,
faltámos a encontros:
nem sequer quando errámos
fizemos grande coisa! "

Manuel António Pina, in "Um Sítio onde Pousar a Cabeça"

terça-feira, 1 de outubro de 2013

uma paixão imensa por ela, pelo que diz e pelo que faz

MARTEL: In a way, post-production is less happier than the shooting, because the shooting is like a party. [Shooting] is all together—for me it is like a party. In post-production, you are alone with someone; it’s not like a party! It’s work. It’s not the moment I enjoy the most; there’s a lot of decisions you have to take and you have to leave a lot of things [out of the film]. For me, it is a more bitter moment. I think that the joy of my life is writing, and the happiness of the party in the shooting—and then, the work.

in Dread Desert, Part II: a conversation with Lucrecia Martel