Ele acorda cedo. Mais cedo que eu. Vê as plantas do jardim antes de mim. Cuida delas sem mim. Mas quando eu acordo, chama-me até elas. Faz-me olhá-las e ver do que um jardim é capaz: a planta com as flores rosa, que carinhosamente no Brasil se chama de "Amor Agarradinho", morreu quando ele esteve ausente durante dez dias, os pés de tomate entrelaçaram-se com as folhas da árvore de pitanga, o alho francês cresceu só em cima, os oregãos morreram no Inverno e vieram em força no Verão sem termos feito nada, o manjericão ficou doente e não há forma de se recuperar e há um dia do mês em que acordamos e uma orquídea branca se abre linda para se fechar logo depois. Ele olha a orquídea aberta, fascinado, durante minutos e minutos e entusiasma-me ver algo que nunca repararia se não fosse ele.
No nosso jardim ele rega as plantas quando o sol se põe, eu ajudo com a mangueira de vez em quando, quando ela se enrola e a água não passa, ele propõe um túnel de suculentas e cuida até das mais pequenas.
Um jardim que é dele e que por isso é nosso. Um jardim que ele me ensina a ver a cada dia e que eu guardo cada instante.