segunda-feira, 27 de agosto de 2012
domingo, 19 de agosto de 2012
no Tempo.
Esperava encontrar um Cientista Louco, ou o Dr. Frankenstein.
Em vez disso, conheceu um homem razoável que lhe explicou... sossegadamente, que a raça humana estava condenada. O Espaço estava proibido. A única esperança para sobreviver recaía no Tempo. Um lugar no Tempo.
Desta vez aproxima-se dela, fala com ela. Ela acolhe-o sem surpresas. Não tem recordações, nem planos. O Tempo construiu-se sem dificuldade à sua volta. Os seus únicos pontos de referência são o sabor do momento que estão a viver... e as marcas na parede.
Chris Marker, La Jetée (1962)
Em vez disso, conheceu um homem razoável que lhe explicou... sossegadamente, que a raça humana estava condenada. O Espaço estava proibido. A única esperança para sobreviver recaía no Tempo. Um lugar no Tempo.
Desta vez aproxima-se dela, fala com ela. Ela acolhe-o sem surpresas. Não tem recordações, nem planos. O Tempo construiu-se sem dificuldade à sua volta. Os seus únicos pontos de referência são o sabor do momento que estão a viver... e as marcas na parede.
Chris Marker, La Jetée (1962)
sábado, 18 de agosto de 2012
Do constante assalto.
“A vida como um comentário de outra coisa que não alcançamos e que está aí ao alcance do salto que não damos.
A vida, um ballet sobre um tema histórico, uma história sobre um episódio vivido, um episódio vivido sobre um facto real.
A vida fotografia do número, posse nas trevas (mulher, monstro?), a vida, proxeneta da morte, esplêndido baralho de cartas, tarot de chaves esquecidas que umas mãos gotosas rebaixam a um triste jogo de paciência.”
Rayuela, Julio Cortazar
Em mim, os assaltos quase constantes dos excertos de Rayuela.
A vida, um ballet sobre um tema histórico, uma história sobre um episódio vivido, um episódio vivido sobre um facto real.
A vida fotografia do número, posse nas trevas (mulher, monstro?), a vida, proxeneta da morte, esplêndido baralho de cartas, tarot de chaves esquecidas que umas mãos gotosas rebaixam a um triste jogo de paciência.”
Rayuela, Julio Cortazar
Em mim, os assaltos quase constantes dos excertos de Rayuela.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Hapiness
Whoever embraces a woman is Adam. The woman is Eve.
Everything happens for the first time.
I saw something white in the sky.
They tell me it is the moon, but what can I do with a word and a mythology.
Trees frighten me a little. They are so beautiful.
The calm animals come closer so that I may tell them their names.
The books in the library have no letters. They spring forth when I open them.
Leafing through the atlas I project the shape of Sumatra.
Whoever lights a match in the dark is inventing fire.
Inside the mirror an Other waits in ambush.
Whoever looks at the ocean sees England.
Whoever utters a line of Liliencron has entered into battle.
I have dreamed Carthage and the legions that destroyed Carthage.
I have dreamed the sword and the scale.
Praised be the love wherein there is no possessor and no possessed, but both surrender.
Praised be the nightmare, which reveals to us that we have the power to create hell.
Whoever goes down to a river goes down to the Ganges.
Whoever looks at an hourglass sees the dissolution of an empire.
Whoever plays with a dagger foretells the death of Caesar.
Whoever dreams is every human being.
In the desert I saw the young Sphinx, which has just been sculpted.
There is nothing else so ancient under the sun.
Everything happens for the first time, but in a way that is eternal.
Whoever reads my words is inventing them.
Jorge Luis Borges (1899-1986)
Translated by Stephen Kessler
La dicha
El que
abraza a una mujer es Adán. La mujer es Eva.
Todo sucede
por primera vez.
He visto una cosa blanca en el cielo.
Me dicen que es la luna, pero qué puedo hacer con una palabra y con una mitología.
Los árboles me dan un poco de miedo. Son tan hermosos.
Los tranquilos animales se acercan para que yo les diga su nombre.
Los libros de la biblioteca no tienen letras. Cuando los abro surgen.
Al hojear el atlas proyecto la forma de Sumatra.
El que prende un fósforo en el oscuro está inventando el fuego.
En el espejo hay otro que acecha.
El que mira el mar ve a Inglaterra.
El que profiere un verso de Liliencron ha entrado en la batalla.
He soñado a Cartago y a las legiones que desolaron a Cartago.
He soñado la espada y la balanza.
Loado sea el amor en el que no hay poseedor ni poseída, pero los dos se entregan.
Loada sea la pesadilla, que nos revela que podemos crear el infierno.
El que desciende a un río desciende al Ganges.
El que mira un reloj de arena ve la disolución de un imperio.
El que juega con un puñal presagia la muerte de César.
El que duerme es todos los hombres.
En el desierto vi la joven Esfinge que acaban de labrar.
Nada hay tan antiguo bajo el sol.
Todo sucede por primera vez, pero de un modo eterno.
El que lee mis palabras está inventándolas.
Me dicen que es la luna, pero qué puedo hacer con una palabra y con una mitología.
Los árboles me dan un poco de miedo. Son tan hermosos.
Los tranquilos animales se acercan para que yo les diga su nombre.
Los libros de la biblioteca no tienen letras. Cuando los abro surgen.
Al hojear el atlas proyecto la forma de Sumatra.
El que prende un fósforo en el oscuro está inventando el fuego.
En el espejo hay otro que acecha.
El que mira el mar ve a Inglaterra.
El que profiere un verso de Liliencron ha entrado en la batalla.
He soñado a Cartago y a las legiones que desolaron a Cartago.
He soñado la espada y la balanza.
Loado sea el amor en el que no hay poseedor ni poseída, pero los dos se entregan.
Loada sea la pesadilla, que nos revela que podemos crear el infierno.
El que desciende a un río desciende al Ganges.
El que mira un reloj de arena ve la disolución de un imperio.
El que juega con un puñal presagia la muerte de César.
El que duerme es todos los hombres.
En el desierto vi la joven Esfinge que acaban de labrar.
Nada hay tan antiguo bajo el sol.
Todo sucede por primera vez, pero de un modo eterno.
El que lee mis palabras está inventándolas.
O Arquitecto Cineasta
Eu assumo o desafio de descobrir o escondido, o não revelado, o não percebido nos objectos aparentemente unidimensionais ou com uma única valência.
Esse é todo o projecto da humanidade. Significar não só o insignificado como o insignificável, especialmente o discurso artístico, o discurso poético. A arquitectura carrega muito a memória daquilo que nunca vimos. Pressupõe, portanto, um modo de olhar que, embora adquirido, nos acaba por ser tão próprio como o faro é para os cães.
Manuel Vicente
sábado, 4 de agosto de 2012
Comédia Fantasma
(...)
Às vezes, porém, a vida parece-nos uma comédia fantasma. Como tirados de um sonho, olhamos os outros agir e, gelados ao verificarmos o dispêndio vital requerido pela manutenção dos nossos requistos primitivos, perguntamos com espanto o que restou da Arte. O nosso frenesi de caretas e olhadelas parece-nos de repente o cúmulo da insignificância, o nosso pequeno ninho tão macio, fruto de um endividamento de vinte anos, parece um inútil costume bárbaro, e a nossa posição na escala social, tão duramente conquistada e tão eternamente precária, parece de uma grosseira inutilidade. Quanto à nossa descendência, nós a contemplamos com um olhar novo e horrorizado porque, sem as vestes do altruísmo, o acto de se reproduzir parece profundamente deslocado. Restam apenas os prazeres sexuais; mas, arrastados no rio da miséria primal, eles vacilam da mesma forma, pois a ginástica sem o amor não entra no quadro das nossas lições bem aprendidas.
A eternidade escapa-nos.
Nesses dias, em que soçobram no altar da nossa natureza profunda todas as crenças românticas, políticas, intelectuais, metafísicas e morais que os anos de instrução e educação tentaram imprimir em nós, a sociedade, campo territorial cruzado por grandes ondas hierárquicas, afunda no nada do Sentido.
(...)
Nesses dias, precisamos desesperadamente de Arte. Aspiramos ardentemente retomar a nossa ilusão espiritual, desejamos apaixonadamente que algo nos salve dos destinos biológicos para que toda a poesia e toda a grandeza não sejam excluídas deste mundo.
Então, tomamos uma xícara de chá ou assistimos a um filme do Ozu, para nos retirarmos da ronda das justas e batalhas que são os costumes reservados da nossa espécie dominadora, e darmos a esse teatro patético a marca da Arte e das suas obras maiores.
Muriel Barbery in A elegância do ouriço (Cap. 12. Comédia Fantasma)
Às vezes, porém, a vida parece-nos uma comédia fantasma. Como tirados de um sonho, olhamos os outros agir e, gelados ao verificarmos o dispêndio vital requerido pela manutenção dos nossos requistos primitivos, perguntamos com espanto o que restou da Arte. O nosso frenesi de caretas e olhadelas parece-nos de repente o cúmulo da insignificância, o nosso pequeno ninho tão macio, fruto de um endividamento de vinte anos, parece um inútil costume bárbaro, e a nossa posição na escala social, tão duramente conquistada e tão eternamente precária, parece de uma grosseira inutilidade. Quanto à nossa descendência, nós a contemplamos com um olhar novo e horrorizado porque, sem as vestes do altruísmo, o acto de se reproduzir parece profundamente deslocado. Restam apenas os prazeres sexuais; mas, arrastados no rio da miséria primal, eles vacilam da mesma forma, pois a ginástica sem o amor não entra no quadro das nossas lições bem aprendidas.
A eternidade escapa-nos.
Nesses dias, em que soçobram no altar da nossa natureza profunda todas as crenças românticas, políticas, intelectuais, metafísicas e morais que os anos de instrução e educação tentaram imprimir em nós, a sociedade, campo territorial cruzado por grandes ondas hierárquicas, afunda no nada do Sentido.
(...)
Nesses dias, precisamos desesperadamente de Arte. Aspiramos ardentemente retomar a nossa ilusão espiritual, desejamos apaixonadamente que algo nos salve dos destinos biológicos para que toda a poesia e toda a grandeza não sejam excluídas deste mundo.
Então, tomamos uma xícara de chá ou assistimos a um filme do Ozu, para nos retirarmos da ronda das justas e batalhas que são os costumes reservados da nossa espécie dominadora, e darmos a esse teatro patético a marca da Arte e das suas obras maiores.
Muriel Barbery in A elegância do ouriço (Cap. 12. Comédia Fantasma)
Receitas Caseiras para Mulheres Infiéis
O fundamental é o tempero. É daí que vem o temperamento, sem o qual o prato mais sofisticado resulta desenxabido. Uma mulher (e por que não um homem, depende do homem) sabe que, para singrar nas artes do amor, precisa de ter sempre o temperamento à mão. O segundo factor a ter em conta é, por conseguinte, a mão. Com tempero e mão, mão e tempero, o mundo é dos amantes!
Segundo o dicionário, tempero é:
1. Verbo: Colocar substâncias na comida para lhe dar bom sabor. = ADUBAR, CONDIMENTAR
Vem mesmo a calhar para o que está em jogo. Que é a comida, mas não a mera comida, conceito que nada tem de sensual. O pasto que se aduba com o tempero conveniente tem outra dignidade e outra ambição. Aduba-se com mão de jardineiro para que nele desabroche o Verão de todos os frutos proibidos. Adubar é acrescentar cultura à natureza. Se o trabalho for bem feito, temos a santa aliança da mão e do tempero.
(...)
1. Verbo: Colocar substâncias na comida para lhe dar bom sabor. = ADUBAR, CONDIMENTAR
Vem mesmo a calhar para o que está em jogo. Que é a comida, mas não a mera comida, conceito que nada tem de sensual. O pasto que se aduba com o tempero conveniente tem outra dignidade e outra ambição. Aduba-se com mão de jardineiro para que nele desabroche o Verão de todos os frutos proibidos. Adubar é acrescentar cultura à natureza. Se o trabalho for bem feito, temos a santa aliança da mão e do tempero.
(...)
Com perdão ao dicionário, mas em culinária, o substantivo é infinitamente plural e só nessa dimensão merece ser acolhido. Passa-se com os temperos aquilo que uma personagem de Brecht dizia dos vícios: é preciso ter pelo menos dois, porque só um é de demais. Um tempero sozinho, sem um parceiro, não passa disso mesmo: de um parceiro sozinho sem tempero. Um solipsismo vicioso. Além de que - é do senso comum - os temperos são, na maioria, venenosos. E a intenção não é matar; pelo menos para já!!
Crepes de cacau com cereja e yogurte
http://gourmets-amadores.blogspot.com.br/2012/06/crepes-de-chocolate-cerejas-e-iogurte.html
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