sexta-feira, 10 de maio de 2013

Paciência


Só agora percebo o ter paciência. As pessoas têm de estar preparadas para serem surpreendidas. Até para amarem, serem amadas ou para serem felizes durante um tempo. A paciência é uma forma de risco - das mais perigosas que se podem correr.
Para esperar, não só no tempo como na alma - não como esperança, mas como abertura ao acontecimento de coisas boas, um dia -, é preciso muita força. Mais a força necessária para conter essa força toda, guardando-a bem guardada para os dias que hão-de ou não hão-de vir.
É escusado perder tempo a pensar no futuro: é uma saudade virada do avesso, do que nem sequer se viveu. Quando o presente não presta, mais vale ultrapassá-lo com o passado. O esquecimento torna o passado torto e criativo, sobretudo quando cria dúvidas. O futuro é mais agradável do que se pensa. Há quinze anos, em Abril de 1998, se nos perguntassem como estaríamos em Abril de 2013, diríamos "eu sei lá", sem a operática entoação daquela senhora do Norte que se tornou imortal ao responder "eu sei lá se são os chineses ou o caralho...".
O futuro de há quinze anos é agora mesmo: é aqui que estamos, a fazer o que fazemos. Estamos previsivelmente quinze anos mais velhos do que estávamos: ao menos, envelhecemos todos ao mesmo tempo. Era fatídico.
Não há ninguém que vá para mais novo e memento mori: lembra-te de que vais morrer. As pessoas dizem sempre que são novas quando já é tarde. E quando já é tarde, não percebem que ainda têm muito tempo.

Miguel Esteves Cardoso in Público 

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