The best thing about traveling by land is to refrain from sleeping and to listen:
-I very seldom have nightmares but when I have them, the main theme in general
is that I killed someone.
In my nightmares I am an assassin, and I wake up crying
because I no longer believe in God, who could be the only one capable of comforting me
with his mercy. The only one I respect. Then I dry my tears and feel that I am a good
person, that it has all been a bad dream and that I would never kill anyone.
One night I dreamt that I killed a man with a stick. I got rid of the body but could
not get rid of the head. I was in a hurry to go to work, so I put the man’s head on a
kitchen shelf. I would take care of it when I came back from work. When I got back in
the evening, there was a not from my father on the table. It was that time when my
father would come to the city on business and would fly back home in the evening. The
note said: “I arranged your kitchen shelf. Love, Daddy.”
Sure enough, the kitchen shelf now had a false bottom and behind it was the
well-concealed head of the dead man. I woke up crying – what a great family I have!
What unconditional love! I had the urge to call all my siblings, my parents; I could not
wait to see them. You should meet them.
Last night I dreamt again. I was coming out of my Grandma’s house after a visit
and, when looking for my car keys in my purse, I found a black hand. Dark skin. I
realized I killed a black woman. The keys in my purse are not my car keys but the keys
to an apartment where I am going and where I know the body is. I woke up crying a
screaming.
- Who did the hand belong to?
- I guess the maid’s. Poor thing.
- And you never cry for the people you killed?
- Well, I hardly know them.
This movie was created in the vapor of this conversation.
Lucrecia Martel
terça-feira, 27 de junho de 2017
quinta-feira, 22 de junho de 2017
caminho
os dias são velhos
enrugados
com linhas tortas
caminho manca.
mas
os dias velhos são
ainda dias
principio, meio e fim
e de novo.
os dias velhos são
cada vez maiores.
sinto-os longos.
os anos
sinto-os curtos.
os dias são
como eu: velha.
sou velha
e não sei até onde vou
ou até onde irei.
dou o melhor de mim para
os meus suspiros
o meu sangue
o meu ar
rasgo-me no que me resta
e pergunto-me o que me resta
um corpo
dois olhos
um coração
as mãos
que me fazem sentir
o outro que existe cada vez menos
que já não existe
que já foi
que já não sinto
as mãos que
eu sou
sou só eu e os meus
dias velhos
enrugados
com linhas tortas
caminho manca.
mas
os dias velhos são
ainda dias
principio, meio e fim
e de novo.
os dias velhos são
cada vez maiores.
sinto-os longos.
os anos
sinto-os curtos.
os dias são
como eu: velha.
sou velha
e não sei até onde vou
ou até onde irei.
dou o melhor de mim para
os meus suspiros
o meu sangue
o meu ar
rasgo-me no que me resta
e pergunto-me o que me resta
um corpo
dois olhos
um coração
as mãos
que me fazem sentir
o outro que existe cada vez menos
que já não existe
que já foi
que já não sinto
as mãos que
eu sou
sou só eu e os meus
dias velhos
POR UM ACASO
POR UM ACASO
Poderia ter acontecido.
Teve que acontecer.
Aconteceu antes. Depois. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu, mas não com você.
Você foi salvo pois foi o primeiro.
Você foi salvo pois foi o último.
Porque estava sozinho. Com outros. Na direita. Na esquerda.
Porque chovia. Por causa da sombra.
Por causa do sol.
Você teve sorte, havia uma floresta.
Você teve sorte, não havia árvores.
Você teve sorte, um trilho, um gancho, uma trave, um freio,
um batente, uma curva, um milímetro, um instante.
Você teve sorte, o camelo passou pelo olho da agulha.
Em conseqüência, porque, no entanto, porém.
O que teria acontecido se uma mão, um pé,
a um passo, por um fio
de uma coincidência.
Então você está aí? A salvo, por enquanto, das tormentas em curso?
Um só buraco na rede e você escapou?
Fiquei mudo de surpresa.
Escuta,
como seu coração dispara em mim.
Teve que acontecer.
Aconteceu antes. Depois. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu, mas não com você.
Você foi salvo pois foi o primeiro.
Você foi salvo pois foi o último.
Porque estava sozinho. Com outros. Na direita. Na esquerda.
Porque chovia. Por causa da sombra.
Por causa do sol.
Você teve sorte, havia uma floresta.
Você teve sorte, não havia árvores.
Você teve sorte, um trilho, um gancho, uma trave, um freio,
um batente, uma curva, um milímetro, um instante.
Você teve sorte, o camelo passou pelo olho da agulha.
Em conseqüência, porque, no entanto, porém.
O que teria acontecido se uma mão, um pé,
a um passo, por um fio
de uma coincidência.
Então você está aí? A salvo, por enquanto, das tormentas em curso?
Um só buraco na rede e você escapou?
Fiquei mudo de surpresa.
Escuta,
como seu coração dispara em mim.
Wisława Szymborska
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