A gente fez pouco.
A gente era mais.
A gente tinha que ter feito mais.
A gente tinha que ter viajado mais.
A gente tinha que ter ido até ao Pantanal.
A gente tinha de ter visto a Bolívia.
A gente tinha que ter filmado a Bolívia.
A gente tinha que ter transado na neve,
transado de novo debaixo da lua cheia,
com as ondas do mar a rolarem
por baixo de nossos corpos.
Transado na nossa cama com a chuva lá fora.
A gente tinha a nossa cama.
Sabia?
A gente não vai transar nunca mais.
A gente não vai se beijar nunca mais.
Sabia?
A gente tinha de ter transado mais.
Mais devagar. Mais rápido. Mais silencioso.
Mais amoroso. Menos amoroso.
A gente tinha de ter aprendido nosso beijo.
A gente tinha que ter feito filme.
A gente tinha que ter feito filho.
A gente tinha que ter dado mais a mão,
mais o braço, mais abraço.
A gente tinha que ter-se ouvido mais.
A gente tinha de ter tido mais calma,
mais calmos, mais diálogos, menos egoísmo.
A gente tinha que ter saído de nós,
com nós ainda dentro.
A gente tinha que ter sido mais certo.
A gente tinha que se ter magoado menos.
Você não poderia ter ido embora assim.
Você não poderia ter abandonado tudo de nós.
Você não poderia me ter substituído e
impossibilitado todas as nossas possibilidades futuras.
Você não poderia ter perdido a consideração por mim,
não poderia ter perdido a consideração por nós.
Para quê?
Em nome de quê?
Me dê a mão.
Me dá a mão.
Mas agora não.
Agora não.
Agora
tudo está morto.
Nosso futuro está morto.
Nosso passado é uma coisa que não sei.
E nosso presente simplesmente não existe.
Não existe.
A gente fez pouco.
A gente era mais.
E eu te amei tanto.