segunda-feira, 12 de março de 2018

É como se a infância não fosse um tempo

É como se a infância não fosse um tempo 
mas um lugar
com seus cumes seus esconderijos
suas pequenas clareiras
um lugar, aquele onde cometemos 
nosso primeiro crime
há quem tenha matado um coelho 
há quem tenha matado um sapo 
há quem tenha matado um cão
há quem tenha mentido perseguido 
destroçado
deixado morrer
por capricho
de minha parte matei uma criança: 
uma menina
morreu em mim
por onde vou carrego
o seu cadáver
e a forma exata do seu corpo 
repousa no meu corpo
como num vestido
largo demais

Ana Martins Marques

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