Também o que é eterno morre um dia.
Eu tusso e sinto a dor que a tosse traz;
O doutor quer por força a ecografia,
Mas eu não estou para tantas precisões.
Eu rio à morte com um riso largo:
Morrer é tão banal, tão tem que ser!
Disto ou daquilo, que me importa a mim?
Mas, ó horror, com fotos, não, nem documentos!
A tanta exactidão mata o mistério.
O pH, o índice quarenta...
Não quero as pulsações, os eritrócitos,
O temeroso alzaimer, ou o cancro,
Nem sequer o tão raro, do coração.
Ver o pulmão, o peito aberto, o coração,
A palpitar a cores no computador?
Eu morro, eu morro, não se preocupem,
Mas sem saber, de gripe, ou duma coisa,
Ou doutra coisa.
Manuel Resende, O Mundo Clamoroso Ainda.
segunda-feira, 13 de julho de 2020
terça-feira, 23 de junho de 2020
INTERVALO
No silêncio que guardo
quando partes
que escondes sob os
dedos
que se prende
que me deixa no corpo
este calor
da falta do teu corpo como sempre
Maria Teresa Horta
quarta-feira, 17 de junho de 2020
Poemas Quotidianos
50.
Não é nas mãos
que desespero
As minhas mãos
só trabalham
e adormecem
esfriam
ou arrefecem
Não desmaiam
nem têm rios
Têm ossos
músculos
e sangue
poros também
por onde transpiro
mais nada têm
António Reis – Poemas Quotidianos
Não é nas mãos
que desespero
As minhas mãos
só trabalham
e adormecem
esfriam
ou arrefecem
Não desmaiam
nem têm rios
Têm ossos
músculos
e sangue
poros também
por onde transpiro
mais nada têm
António Reis – Poemas Quotidianos
domingo, 14 de junho de 2020
para hoje
Ofereci-te tanta coisa. A mais preciosa, aquela que há muitos anos não dava a ninguém - a mais preciosa, repito, foi a minha absoluta disponibilidade para estar contigo, ouvir-te, ou estar em silêncio perto de ti.”
Al Berto
in "Diários"
sábado, 13 de junho de 2020
Há sempre um rapaz triste
Há sempre um rapaz triste
em frente a um barco
(a água é sempre azul
e sempre fresca)
Em que país encontraria
um emprego e esquecimento
em que país encontraria
amor e compreensão
Em que país
sentiriam
a sua vida e a sua morte
Não respondem as gaivotas
porque voam
Há sempre um rapaz triste
com lágrimas nos olhos
em frente a um barco
António Reis - Poemas Quotidianos, pág. 22, Porto, [1957].
em frente a um barco
(a água é sempre azul
e sempre fresca)
Em que país encontraria
um emprego e esquecimento
em que país encontraria
amor e compreensão
Em que país
sentiriam
a sua vida e a sua morte
Não respondem as gaivotas
porque voam
Há sempre um rapaz triste
com lágrimas nos olhos
em frente a um barco
António Reis - Poemas Quotidianos, pág. 22, Porto, [1957].
segunda-feira, 8 de junho de 2020
O Espelho
Ontem fiquei esperando desde manhã,
Eles sabiam que não virias, eles adivinhavam. Lembras como o dia estava lindo?
Um feriado! Eu não precisava de casaco.
Você veio hoje, e aconteceu
Que o dia foi cinzento, sombrio,
E chovia, e era meio tarde,
E ramos frios com gotas escorrendo.
Palavras não podem consolar, nem lenços enxugar.
Arseni Tarkovski
Eles sabiam que não virias, eles adivinhavam. Lembras como o dia estava lindo?
Um feriado! Eu não precisava de casaco.
Você veio hoje, e aconteceu
Que o dia foi cinzento, sombrio,
E chovia, e era meio tarde,
E ramos frios com gotas escorrendo.
Palavras não podem consolar, nem lenços enxugar.
Arseni Tarkovski
terça-feira, 2 de junho de 2020
Estações
Velhinhos se amam jovens nas fotografias.
Os moços projetam roteiros definitivos.
O menino quer crescer pra fazer as coisas.
O madurão avalia se o futuro salda o passado.
Os moços projetam roteiros definitivos.
O menino quer crescer pra fazer as coisas.
O madurão avalia se o futuro salda o passado.
As folhas da árvore voam conforme o vento.
A tartaruga ganhou casco para não voar.
Os óculos que enxergam longe cegam de perto.
Os deuses bocejantes jogam cartas no Olimpo.
Raras vezes, amor, o tempo agrada o corpo.
A tartaruga ganhou casco para não voar.
Os óculos que enxergam longe cegam de perto.
Os deuses bocejantes jogam cartas no Olimpo.
Raras vezes, amor, o tempo agrada o corpo.
Alcides Villaça
sábado, 23 de maio de 2020
Sobre o Mundo
O telescópio não alcança sequer a tua alma;
Imprecisão exacta de um instrumento instintivo.
Mas repara: não há instrumentos instintivos ou máquinas
espontâneas.
Dois terços do amor estão na mulher, qualquer
que seja o casal. As evidências abrem falência
em todas as áreas; com o machado homens robustos inventam
ciências viris. Indispensáveis, de facto:
ciências meigas já existem em número
excessivo. Monumentos que ocupam
quilómetros quadrados são explicados por uma equação de
dois centímetros. Repara: a engenharia é a invenção que engordou
as equações matemáticas. Atirou-as para o Mundo.
Vê as águas, a sabedoria discreta: ninguém
constrói uma torre de observação no centro
do mar. As águas não se bebem
por inteiro, e nem toda a água é doméstica. O mar não tem
diminutivos. Uma onda não o é.
Nem o peixe.
Ciências que estudem seriamente o riso
não existem; os cientistas
colocam fórmulas em tabelas: têm gráficos complexos
que explicam a simplicidade
do Mundo. Felizmente, fomos salvos
pelo coração.
Certos órgãos ficaram reféns dos profetas
antigos, e as noites passam-se melhor assim.
Indecisões desconcertantes permitem reinventar a
monotonia: Trago-te uma monotonia surpreendente, alguém diz.
Animais mitológicos bebem água no nada,
e mesmo assim crescem; têm células resistentes.
Outros animais mais longos e espessos, mamíferos
de grande porte por exemplo, evaporam a 36°, reaparecendo
não carnívora. O mundo muda,
Não pense que não. Nem os mamíferos são eternos.
No aeródromo, por exemplo, o poema atravanca o caminho
de descolagem
do avião de um
País pouco habituado a máquinas que subam mais
alto que um banco de cozinha. O mundo
não é injusto, mas também não é teu mordomo;
Avança e é só.
Imprecisão exacta de um instrumento instintivo.
Mas repara: não há instrumentos instintivos ou máquinas
espontâneas.
Dois terços do amor estão na mulher, qualquer
que seja o casal. As evidências abrem falência
em todas as áreas; com o machado homens robustos inventam
ciências viris. Indispensáveis, de facto:
ciências meigas já existem em número
excessivo. Monumentos que ocupam
quilómetros quadrados são explicados por uma equação de
dois centímetros. Repara: a engenharia é a invenção que engordou
as equações matemáticas. Atirou-as para o Mundo.
Vê as águas, a sabedoria discreta: ninguém
constrói uma torre de observação no centro
do mar. As águas não se bebem
por inteiro, e nem toda a água é doméstica. O mar não tem
diminutivos. Uma onda não o é.
Nem o peixe.
Ciências que estudem seriamente o riso
não existem; os cientistas
colocam fórmulas em tabelas: têm gráficos complexos
que explicam a simplicidade
do Mundo. Felizmente, fomos salvos
pelo coração.
Certos órgãos ficaram reféns dos profetas
antigos, e as noites passam-se melhor assim.
Indecisões desconcertantes permitem reinventar a
monotonia: Trago-te uma monotonia surpreendente, alguém diz.
Animais mitológicos bebem água no nada,
e mesmo assim crescem; têm células resistentes.
Outros animais mais longos e espessos, mamíferos
de grande porte por exemplo, evaporam a 36°, reaparecendo
não carnívora. O mundo muda,
Não pense que não. Nem os mamíferos são eternos.
No aeródromo, por exemplo, o poema atravanca o caminho
de descolagem
do avião de um
País pouco habituado a máquinas que subam mais
alto que um banco de cozinha. O mundo
não é injusto, mas também não é teu mordomo;
Avança e é só.
Gonçalo M. Tavares
sexta-feira, 15 de maio de 2020
O LIVRO
Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido. No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se.
Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a ciência que trata da vida; era justamente do que eu necessitava — pôr ciência na minha vida. Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada. Disseram-me que era necessário estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo à imagem e semelhança de Deus. Não basta?
Imaginava eu que havia tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com o tratamento que há para os animais domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há! Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia.
Não achas, Mãe? Por exemplo. Há um cão vadio, sujo e com fome, cuida-se deste cão e ele deixa de ser vadio, deixa de estar sujo e deixa de ter fome. Até as crianças já lhe fazem festas. Cuidaram do cão porque o cão não sabe cuidar de si — não saber cuidar de si é ser cão. Ora eu não queria que cuidassem de mim, mas gostava que me ajudassem, para eu não estar assim, para que fosse eu o dono de mim, para que os que me vissem dissessem: Que bem que aquele soube cuidar de si!
Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: Olha uma árvore! quando há uma árvore. Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça: Um homem!
Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar. Como o livro, as pessoas tinham principio, meio e fim. A principio o livro chamava-me, no meio o livro deu-me a mão, no fim fiquei com a mão suada do livro de me ter estendido a mão. Talvez que nos outros livros… mas os títulos dos livros são como os nomes das pessoas–não quer dizer nada, é só para não se confundir…
Na montra estava um livro chamado «O lial conselheiro». Escrito antigamente por um Rei dos Portuguezes! Escrito de uma só maneira para todas as especies de seus vassalos! Bemdito homem que foi na verdade Rei! O Mestre que quere que eu seja Mestre! Eu acho que todos os livros deviam chamar-se assim: «O lial conselheiro»! Não achas, Mãe?
O Mestre escreveu o que sabia–por isso ele foi Mestre. As palavras tornaram presentes como o Mestre fazia atenção. Estas palavras ficaram escritas por causa dos outros também Os outros aprendiam a ler para chegarem a Mestres–era com esta intenção que se aprendia a ler antigamente.
Sonhei com um paíz onde todos chegavam a Mestres. Começava cada qual por fazer a caneta e o aparo com que se punha á escuta do universo; em seguida, fabricava desde a matéria prima o papel onde ia assentando as confidencias que recebia directamente do universo; depois, descia até ao fundo dos rochedos por causa da tinta negra dos chócos; gravava letra por letra o tipo com que compunha as suas palavras; e arrancava da arvore a prensa onde apertava com segurança as descobertas para irem ter com os outros. Era assim que neste país todos chegavam a Mestres. Era assim que os Mestres iam escrevendo as frases que hão-de salvar a humanidade.
Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa–salvar a humanidade.
- O pequeno é como o grande.
- O que é que está em cima é análogo ao que está em baixo.
- O interior é como o exterior das coisas.
- Tudo está em tudo.
José de Almada Negreiros, A invenção do Dia Claro
terça-feira, 12 de maio de 2020
Artéria, tu tens razão
A única coisa que eu aprendi meu Deus
a sofrer a desilusão duma passagem de rua
ficar com o lado esquerdo a ajudar a falar
mas a única coisa que eu aprendi
Que um bocado de vidro inundasse de luz uma artéria
eu era um bocado de vidro que não inundasse de luz
artéria nenhuma
era uma desilusão a olhar para mim
e dizer movimento de rua
é assim movimento de rua
aí está nós cá estamos nós somos tal e qual
uma desilusão em passagem.
Tinha era ainda mais que tudo isso
um inchaço dum vidro em bocado
espetado em cima de pedra.
Havia um estendal de desilusão a devorar-me
todo com os olhos
eu era uma continuação do meu ser.
Onde um simulacro estava a vantagem
de uma desilusão.
Eu não
eu cá.
Que um cá estamos considerasse ou não
eu não tinha nada com isso
Eu fum, eu...
Ah,
Havia é que era eu cá estamos nada disso
eu cá não eu nada eu não tinha eu não tenho
tu quê
nós consideramos.
Onde punha fum
tudo por dentro era duma urania
tudo por dentro era duma constipação palpável
pelo sentido da pedra e do bocado de vidro.
Não eu cá não vou.
Quem olha descontenta.
António Gancho
a sofrer a desilusão duma passagem de rua
ficar com o lado esquerdo a ajudar a falar
mas a única coisa que eu aprendi
Que um bocado de vidro inundasse de luz uma artéria
eu era um bocado de vidro que não inundasse de luz
artéria nenhuma
era uma desilusão a olhar para mim
e dizer movimento de rua
é assim movimento de rua
aí está nós cá estamos nós somos tal e qual
uma desilusão em passagem.
Tinha era ainda mais que tudo isso
um inchaço dum vidro em bocado
espetado em cima de pedra.
Havia um estendal de desilusão a devorar-me
todo com os olhos
eu era uma continuação do meu ser.
Onde um simulacro estava a vantagem
de uma desilusão.
Eu não
eu cá.
Que um cá estamos considerasse ou não
eu não tinha nada com isso
Eu fum, eu...
Ah,
Havia é que era eu cá estamos nada disso
eu cá não eu nada eu não tinha eu não tenho
tu quê
nós consideramos.
Onde punha fum
tudo por dentro era duma urania
tudo por dentro era duma constipação palpável
pelo sentido da pedra e do bocado de vidro.
Não eu cá não vou.
Quem olha descontenta.
António Gancho
quinta-feira, 7 de maio de 2020
memórias
É o tema das visões e das vozes, um pouco ameaçador agora quando se lembra aquilo por que se passou. Era o costume das infâncias: viam-se faiscar os rostos, súbitos como pedrarias nos quartos obscuros, assemelhavam-se a alvéolos de colmeias uns sobre os outros. Na cama, escutava-se um clamor, os melhores instantes concentravam-se ali, que apuramento de palavras, de frases, de anúncios, e aquilo ascendia no silêncio, era a nossa música que se compunha, e em baixo mas inteiro nos dons, em estado de graça, respirávamos temerariamente. Estávamos atentos às matérias e sopros do mundo expressos em imagens e vozes autónomas. Nem sequer nos apercebíamos bem de que as noites separavam os dias: era verão. O espaço, os encontros, as caras, o cabelo das mulheres, roupas estendidas a suar, o vento amplo, grandes pedras, grandes girassóis, a fruta amarela, os bichos. Crescíamos no meio do atordoamento de flores e animais, crescíamos assim. Uma noite acordei com o som dos meus próprios gritos. (...) Era a ordem ininterrupta das magias: à meia noite de sábado cravava-se uma faca no tronco das bananeiras, ia-se ver logo pela manhã, a seiva ácida deixara enigmáticas figuras na lâmina, decifrávamos, tínhamos inspirações, revelações: um cavalo, uma águia, um tigre, uma cobra, um leão. As bananeiras gemiam de noite: a sua carne rasgava-se por uma força que vinha de dentro, e das feridas brotavam os rebentos: cachos, frutas de ouro.
(...)
(em Servidões de Hérberto Hélder)
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Escrito nas escadas do Harlem porto-riquenho
Há uma verdade que limita o homem
Uma verdade que o impede de ir mais além
O mundo está a mudar
O mundo sabe que está a mudar
Funda é a tristeza deste tempo
Os velhos trazem a perdição estampada no rosto
Os jovens treslêem o seu destino nesse rosto
Essa é a verdade
Embora não seja toda a verdade
A vida tem sentido
E eu não conheço esse sentido
Mesmo quando me pareceu desprovida de sentido
Fiz figas e rezei e fui buscando um sentido
Nem tudo era poesia travessa
Havia contas a pagar
Ao convocar a Morte e Deus
Aceitei o desafio tresloucado de os enfrentar
A morte revelou-se me desprovida de sentido sem a vida
Sim o mundo está a mudar
Embora a morte continue igual
Afasta o homem da vida
O único sentido que ele conhece
E costuma ser uma coisa triste
Essa morte
Consegui que uma inocência que uma seriedade
Que um humor me salvassem da filosofia amadora
Sou capaz de contradizer as minhas crenças
Sou capaz capaz
Pois desejo conhecer o sentido de tudo
E porém eis-me aqui como destroço
A queixar-me: Ah que responsabilidade
Deposito sobre os teus ombros Gregory
Morte e Deus
Difícil difícil é difícil
Aprendi aue a vida não era um sonho
Aprendi que a verdade enganava
O homem não é Deus
A vida é um século
A morte é um instante
Gregory Corso
terça-feira, 21 de abril de 2020
Canção
O peso do mundo
é amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
do descontentamento
o peso,
o peso que carregamos
é amor.
Quem pode negar?
Toca
em sonhos
o corpo,
constrói
em pensamento
um milagre,
angustia-se
na imaginação
até nascer
no humano –
espreita pelo coração
ardendo puramente –
pois o fardo da vida
é amor,
carregamos porém o fogo
com fadiga,
temos pois de descansar
nos braços do amor
enfim,
temos de descansar nos braços
do amor.
Não há descanso
sem amor,
não há sono
sem sonhos
de amor –
loucos ou indiferentes
que sejamos, obcecados
com anjos ou máquinas,
o derradeiro desejo
é amor
– não pode amargar
não se pode negar,
não se pode conter
se negado:
pesa de mais este peso
– tem de se dar
sem rendimento
como se dá
o pensamento
na solidão
na suprema excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
no escuro,
move-se a mão
para o centro
da carne,
treme a pele
de felicidade
e vem-se a alma
exuberante aos olhos –
sim, sim,
era isso que eu
queria,
que eu sempre quis,
eu sempre quis
regressar
ao corpo
onde eu nasci.
San Jose, 1954
allen ginsberg
uivo e outros poemas
trad. margarida vale de gato
relógio d’ água
2014
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Um poema para os corações negros
Pelos olhos de Malcolm, quando quebraram a cara
de um branco estúpido.
Pelas mãos de Malcolm, erguidas, para nos abençoar,
negros e fortes na sua imagem de nós mesmos.
Pelas palavras de Malcolm, dardos de fogo, vitoriosas,
ferindo incansáveis, palavras suspensas
sobre o mundo, mudando-o como podem.
Ele disse, por isso foi assassinado, por dizer
e sentir, sendo e mudando.
Todos juntos no seu coração ardente.
Pelo coração de Malcolm elevando-nos sobre
as cidades imundas.
Pelos seus passos e seu jeito e suas palavras
aos monstros cinzentos do mundo.
Pelas súplicas de Malcolm por sua dignidade,
negros, por suas vidas, para encher seus
espíritos de confiança.
Por tudo dele, morto e já partido, sumido de
nós, e tudo dele ligado a nós para
nossa crença Deus negro de nosso tempo.
Por tudo dele e de vocês mesmos, ergam os
olhos negros, parem de gaguejar e andar cabisbaixos,
levantem a cabeça e parem de choramingar
e se humilhar, por tudo dele.
Pelo grande Malcolm, um príncipe da terra,
não nos deixemos esmorecer.
Até nos vingarmos, nós próprios, por sua morte
(estúpidos animais que o mataram), não nos deixemos
tomar fôlego, pois se cairmos os brancos nos chamarão
de bichas
até o fim do mundo.
LeRoi Jones
sábado, 11 de abril de 2020
Cartas que Tarkosvki recebeu, enviadas por espectadores dos seus filmes
Uma engenheira civil de Leningrado escreveu-me:
"Vi seu filme, O Espelho. Assisti até ao fim, apesar da grande dor de cabeça que me foi provocada na primeira meia hora pelas tentativas de analisá-lo, ou de ao menos compreender alguma coisa do que nele se passava, alguma relação entre os personagens, os acontecimentos e as recordações. Nós, pobres espectadores, vemos filmes que são bons, maus, muito maus, banais ou extremamente originais. Porém, no caso de qualquer um desses filmes, podemos sempre entender, ficar entusiasmados ou entediados, conforme o caso, mas o que dizer do seu filme?!"
Um engenheiro de equipamentos de Kalinin também ficou terrivelmente indignado:
"Há meia hora que saí do cinema, onde assisti ao seu filme, O Espelho. Pois muito bem, camarada realizador!! Também o viu? A impressão que tenho é a de que há algo de doentio nesse filme. Desejo-lhe todo o sucesso na sua carreira, mas asseguro-lhe que não precisamos de filmes assim."
Outro engenheiro, desta vez de Sverdlovsk, foi incapaz de conter a sua profunda antipatia:
"Que vulgaridade, que porcaria! Bah, que revoltante! De qualquer forma, creio que seu filme não irá mesmo fazer muito sucesso. Com toda a certeza não conseguiu atingir o público, e, afinal, é isso o que importa." Este homem chega mesmo a pensar que os responsáveis pela indústria cinematográfica devem ser chamados a justificar-se. "É de admirar que as pessoas responsáveis pela distribuição dos filmes aqui na União Soviética deixem passar tais disparates.
Para fazer justiça à administração dos cinemas, tenho de dizer que "tais disparates" só muito raramente eram permitidos — em média, uma vez a cada cinco anos. Quanto a mim, ao receber cartas como esta, costumava desesperar-me: afinal, para quem é que eu estava a trabalhar, e por quê?
O que me reconfortava um pouco era um outro tipo de espectador, com as suas cartas cheias de incompreensão mas que, ao menos, se percebia o desejo verdadeiro de compreender a minha maneira de ver as coisas. Por exemplo:
"Certamente não sou o primeiro, nem serei o último, a escrever-lhe completamente desnorteado, pedindo ajuda para entender O Espelho. Em si, os episódios são muito bons, mas como ligá-los entre si?"
De Leningrado, outra mulher escreveu:
"O filme é tão diferente de tudo o que já vi, que não estou preparada para entendê-lo, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo. Você poderia explicá-lo? Não que se possa dizer que eu nada entenda de cinema em termos gerais mas vi os seus filmes anteriores, A Infância de Ivan e Andrei Rublev, e entendi-os bem. Mas, quanto a O Espelho: antes da projeção do filme, seria necessário preparar os espectadores através de algum tipo de introdução. Depois de vê-lo, ficamos irritados com a nossa impotência e a nossa obtusidade. Com todo respeito, Andrei, se não lhe for possível responder detalhadamente à minha carta, diga- me ao menos onde posso ler alguma coisa sobre o filme."
"Certamente não sou o primeiro, nem serei o último, a escrever-lhe completamente desnorteado, pedindo ajuda para entender O Espelho. Em si, os episódios são muito bons, mas como ligá-los entre si?"
De Leningrado, outra mulher escreveu:
"O filme é tão diferente de tudo o que já vi, que não estou preparada para entendê-lo, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo. Você poderia explicá-lo? Não que se possa dizer que eu nada entenda de cinema em termos gerais mas vi os seus filmes anteriores, A Infância de Ivan e Andrei Rublev, e entendi-os bem. Mas, quanto a O Espelho: antes da projeção do filme, seria necessário preparar os espectadores através de algum tipo de introdução. Depois de vê-lo, ficamos irritados com a nossa impotência e a nossa obtusidade. Com todo respeito, Andrei, se não lhe for possível responder detalhadamente à minha carta, diga- me ao menos onde posso ler alguma coisa sobre o filme."
Infelizmente, não havia quaisquer leituras que eu pudesse recomendar a estes correspondentes; não existiam publicações de nenhum tipo sobre O Espelho, a menos que se considere como tal a condenação pública do meu filme como inadmissivelmente "elitista", feita pelos meus colegas numa reunião do "Instituto de Cinematografia do Estado e do Sindicato dos Cineastas", e publicada na revista Arte do Cinema.
(...)
Um dos membros do Instituto de Física da Academia de Ciências enviou-me uma nota publicada no jornal mural do Instituto:
"O aparecimento do filme de Tarkovski, O EspeIho, despertou grande interesse no IFAC, como de resto, em toda a cidade de Moscovo. Não foi possível a todos que assim o desejavam encontrar-se com o realizador (como também se viu impossibilitado o autor desta nota). Nenhum de nós pode entender como Tarkovski conseguiu, através dos recursos oferecidos pelo Cinema, criar uma obra de tal profundidade filosófica. Habituado ao facto de que cinema é sempre história, ação, personagens e o costumeiro happy ending, o público também tenta encontrar estes componentes no filme de Tarkovski, e, ao não os encontrar, sente-se frequentemente desapontado. De que fala esse filme? De um homem. Não daquele homem em particular, cuja voz ressoa por trás da tela, representado por Innokenti Smoktunovsky. É um filme sobre ti, o teu pai, o teu avô, sobre alguém que viverá depois de ti, e que, ainda assim, serás 'tu'. Sobre um homem que vive na terra, que é parte da terra, a qual, por sua vez, é parte dele. É sobre o facto de que um homem responde com a vida, tanto ao passado quanto ao futuro. Deve ver-se este filme com simplicidade e ouvir a música de Bach e os poemas de Arseni Tarkovski; vê--lo da mesma maneira como se olha para as estrelas ou para o mar, ou ainda, como se admira uma paisagem. Não há aqui nenhuma lógica matemática, pois esta não é capaz de explicar o que é o homem ou em que consiste o sentido de sua vida."
Retirado do livro "Esculpir o Tempo" de Andrei Tarkovski
Retirado do livro "Esculpir o Tempo" de Andrei Tarkovski
sexta-feira, 27 de março de 2020
Uma carta a um jovem poeta
A primeira resposta de Rainer Maria Rilke a Franz Xaver Kappus depois deste lhe pedir sua opinião sobre seus poemas.
Paris, 17 Fevereiro 1903
Prezado Senhor,
A sua carta só me alcançou há poucos dias. Quero lhe agradecer por sua grande e amável confiança mas é só isso que posso fazer. Não posso entrar em considerações sobre a forma dos seus versos; pois me afasto sobre qualquer intenção critica. Não há nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de critica: elas não passam de mal entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de apreender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço em que nunca uma palavra penetrou, e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa.
Feita essa observação prévia, posso dizer-lhe ainda que seus versos não possuem uma forma própria, mas apenas indicações silenciosas e veladas de personalidade. Sinto esse tipo de indicação de modo mais claro no último poema, "Minha alma". Ali, algo de próprio quer ganhar expressão. E no belo poema "A Leopardi" talvez se desenvolva uma espécie de afinidade com aquele grande solitário. Apesar disso, os poemas ainda não são independentes, não têm autonomia, mesmo o último e o dedicado a Leopardi. Sua carta amável que os acompanha não deixou de me esclarecer alguma insuficiência que senti ao ler seus versos, sem no entanto ser capaz de designá-la pelo nome.
O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso", então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso. Então se aproxime da natureza. Procure, como o primeiro homem, dizer o que vê e vivencia e ama e perde. Não escreva poemas de amor; evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns: são elas as mais difíceis, pois é necessária uma força grande e amadurecida para manifestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que seu próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza - descreva tudo isso com sinceridade íntima, serena, paciente, e utilize, para expressar, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Caso o seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante. Mesmo que estivesse em uma prisão, cujos muros não permitissem que nenhum dos ruídos do mundo chegasse a seus ouvidos, o senhor não teria sempre a sua infância, essa riqueza preciosa, régia, esse tesouro das recordações? Volte para ela a atenção. Procure trazer à tona as sensações submersas desse passado tão vasto; sua personalidade ganhará firmeza, sua solidão se ampliará e se tornará uma habitação a meia-luz, da qual passa longe o burburinho dos outros.
E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos. Também não tentará despertar o interesse de revistas por tais trabalhos, pois verá neles seu querido patrimônio natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra seu valor, não há nenhum outro critério. Por isso, prezado senhor, eu não saberia dar nenhum conselho senão este: voltar-se para si mesmo e sondar as profundezas de onde vem a sua vida; nessa fonte o senhor encontrará a resposta para a questão de saber se precisa criar. Aceite-a como ela for, sem interpretá-la. Talvez ela revele que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite sua sorte e a suporte, com seu peso e sua grandeza, sem perguntar nunca pela recompensa que poderia vir de fora. Pois o criador tem de ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si mesmo e na natureza, da qual se aproximou.
Mas talvez, depois desse mergulho em si mesmo e em sua solidão, o senhor tenha de renunciar a ser um poeta (basta, como foi dito, sentir que seria possível viver sem escrever para não ter mais o direito de fazê-lo). Mesmo assim não terá sido em vão o exame de consciência que lhe peço. Seja como for, sua vida encontrará a partir dele caminhos próprios, e que eles sejam bons, ricos e vastos é o que lhe desejo mais do que posso manifestar.
O que ainda devo dizer ao senhor? Parece-me que tudo foi enfatizado da maneira apropriada; por fim, gostaria apenas de aconselhá-lo a passar com serenidade e seriedade pelo período de seu desenvolvimento. Não há meio pior de atrapalhar esse desenvolvimento do que olhar para fora e esperar que venha de fora uma resposta para questões que apenas seu sentimento íntimo talvez possa responder, na hora mais tranquila.
Foi para mim uma alegria encontrar em sua carta o nome do professor Horacek; guardo uma grande estima por esse amável sábio, e uma gratidão que se mantém através dos anos. Por favor, mencione a ele o que sinto; é muita bondade que ainda se recorde de mim, e sei apreciá-la.
Devolvo também os versos que o senhor me confiou amigavelmente. E lhe agradeço mais uma vez pela grandeza e pela cordialidade de sua confiança, de que procurei me tornar um pouco mais digno do que realmente sou, como um estranho, por meio desta resposta sincera, feita da melhor maneira que pude.
E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos. Também não tentará despertar o interesse de revistas por tais trabalhos, pois verá neles seu querido patrimônio natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra seu valor, não há nenhum outro critério. Por isso, prezado senhor, eu não saberia dar nenhum conselho senão este: voltar-se para si mesmo e sondar as profundezas de onde vem a sua vida; nessa fonte o senhor encontrará a resposta para a questão de saber se precisa criar. Aceite-a como ela for, sem interpretá-la. Talvez ela revele que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite sua sorte e a suporte, com seu peso e sua grandeza, sem perguntar nunca pela recompensa que poderia vir de fora. Pois o criador tem de ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si mesmo e na natureza, da qual se aproximou.
Mas talvez, depois desse mergulho em si mesmo e em sua solidão, o senhor tenha de renunciar a ser um poeta (basta, como foi dito, sentir que seria possível viver sem escrever para não ter mais o direito de fazê-lo). Mesmo assim não terá sido em vão o exame de consciência que lhe peço. Seja como for, sua vida encontrará a partir dele caminhos próprios, e que eles sejam bons, ricos e vastos é o que lhe desejo mais do que posso manifestar.
O que ainda devo dizer ao senhor? Parece-me que tudo foi enfatizado da maneira apropriada; por fim, gostaria apenas de aconselhá-lo a passar com serenidade e seriedade pelo período de seu desenvolvimento. Não há meio pior de atrapalhar esse desenvolvimento do que olhar para fora e esperar que venha de fora uma resposta para questões que apenas seu sentimento íntimo talvez possa responder, na hora mais tranquila.
Foi para mim uma alegria encontrar em sua carta o nome do professor Horacek; guardo uma grande estima por esse amável sábio, e uma gratidão que se mantém através dos anos. Por favor, mencione a ele o que sinto; é muita bondade que ainda se recorde de mim, e sei apreciá-la.
Devolvo também os versos que o senhor me confiou amigavelmente. E lhe agradeço mais uma vez pela grandeza e pela cordialidade de sua confiança, de que procurei me tornar um pouco mais digno do que realmente sou, como um estranho, por meio desta resposta sincera, feita da melhor maneira que pude.
Com toda a devoção e toda a simpatia,
Rainer Maria Rilke
quinta-feira, 26 de março de 2020
Carta de Hilda Hilst para António Naud Jr.
25 de Dezembro, 1990
Você me fala do teu poço, Naud, meu baiano bonito, o poço há de ser sempre, às vezes com água mais clarinha, outras vezes com lama, bosta etc. Todos nós que escrevemos somos, queiram os outros ou não, diferentes mesmo, não há jeito. Eu sei que nada tenho a ver com as bestas-feras que habitam o planeta, acho mesmo que somos totalmente diversos, o olho vê mais fundo, a comoção é intensa, maior, fulgurante, tudo nos toca nos comove, nos mata nos aterroriza, o planeta Terra é muito bonito mas ficará amerdalhado totalmente logo mais, tenho profundo desprezo pelos homens políticos de agora de sempre, são todos uns filhos da maior puta, e nós nas mãos deles, cago para todo o Sistema de bosta, pra tudo, não desejo coisas além da solidão muito grande, só aqueles que fazem parte da minha família, isto é os escritores, os de intensidade verdadeira, os que sofrem de piedade e compaixão, as vezes penso que não vou agüentar continuar a existir vendo tanta crueldade, tanto horror. Também meu poço existe, também não tenho nada a ver com cidades, as vezes vou para SP para lançar um livro, como você sabe, chego lá tomo mil porres, ninguém tem nada a dizer, é a mesma baboseira de todos. Naud, nós todos temos problemas, saiba viver com os seus, te foi dado essa coisa tão difícil que é o ato de escrever, o sentir agudo o talento, você é um escritor e pronto, arranje um trabalho de bosta qualquer, meio período, mude-se para um pequeno lugar, você não é casado, não tem filhos para sustentar, escolha o lugar onde quer morar, arranje umas colaborações em revistas jornais, escolha a tua própria vida, faça a sua própria vida...
Subscrever:
Mensagens (Atom)